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Torre de Babel

Torre de Babel

A notícia que quase levou D. João II a mandar matar Cristóvão Colombo

No dia 6 de março de 1493, aportou em Lisboa o navegador genovês Cristóvão Colombo, regressado da gloriosa descoberta da América, e logo foi mandado chamar pelo rei D. João II, que ouviu o navegador a descrever o seu notável feito, realizado em nome dos Reis Católicos, pois o monarca português tinha rejeitado patrocinar a viagem marítima, de forma muito arrogante e com imensos exageros para impressionar o real ouvinte, para além de acusar o monarca de ter anteriormente desprezado a sua empresa quando pela primeira vez a apresentou na Corte portuguesa. Perante tal ousadia e destemida atitude, os conselheiros do rei sugeriram-lhe que mandasse matar Colombo ali mesmo, tendo os conspiradores como principal intuito que a notícia da descoberta das novas terras não chegasse a Castela, mas o Príncipe Perfeito rejeitou tal horrível ideia.

 

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Cristóvão Colombo (1451-1506)

 

Segundo Garcia de Resende, moço de câmara de D. João II, que presenciou tal cena e a descreveu na crónica que redigiu sobre a vida e o reinado do monarca, eis como tudo aconteceu:

 

No ano seguinte de mil e quatrocentos e noventa e três, estando el Rei no lugar de Val de paraíso, que é acima do mosteiro das virtudes, por causa das grandes pestes que nos lugares principais daquela comarca havia, a seis dias de Março veio ter a Restelo em Lisboa Cristóvão Colombo, Italiano, que vinha do descobrimento das ilhas de Cipango, e Antilhas, que por mandado del Rei e da Rainha de Castela tinha descoberto. Das quais trazia consigo as mostras das gentes, e ouro, e outras coisas que nelas havia, e foi delas feito Almirante. E sendo el Rei disto avisado o mandou chamar, e mostrou por isso receber nojo, e sentimento, assim por crer que o dito descobrimento era feito dentro dos mares e termos de seus senhorios de Guiné, como porque o dito Colombo por ser de sua condição alevantado, e no modo do contar das coisas fazia isso em ouro, e prata, e riquezas muito maior do que era, e acusava el Rei por se escusar deste descobrimento, e não no querer mandar a isto, pois primeiro se lhe viera oferecer que aos Reis de Castela, e que fora por lhe não dar crédito. E el Rei foi cometido que houvesse por bem de lho matarem aí, porque com sua morte o descobrimento não iria mais avante de Castela. E que dando sua Alteza a isso consentimento se poderia fazer sem suspeita, porque por ele ser descortês, e alvoraçado, podiam com ele travar de maneira que cada um destes seus defeitos parecesse a causa de sua morte. Mas el Rei como era mui temente a Deus não somente o defendeu, mas ainda lhe fez honra, e mercê, e com ela o despediu.